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Alguma Poesia Alguma

– Geraldo Figueiredo

R$59,90

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Descrição

Autor: Geraldo Figueiredo

O livro de Geraldo Figueiredo é construído a partir de uma série de poemas que podem ser compreendidos como flash’s da vida cotidiana. A pergunta que se insinua silenciosa no título do livro: Há alguma poesia neste livro? É respondida da mesma maneira em cada poema. E a resposta é que o poema está nas pequenas coisas, mas não no sentido desgastado de narrar a beleza das coisas simples, é algo além.

Figueiredo não está preocupado em ver a profundidade em uma aparente beleza das coisas cotidianas. Ele está empenhado em radicalizar a ideia dessa beleza e dessa simplicidade que seriam combustíveis para o poema.

Fatos, absolutamente antipoéticos, como uma mulher cair no chão, uma briga num bar, ou ver televisão, são motivos de poema. E não há nisso nenhuma afirmação de beleza, ao contrário, muitos dos poemas nascem de situações sem beleza alguma. Não é a beleza da poesia e sua superioridade existencial que está em questão, mas sua absoluta irrelevância. O poema nasce da irrelevância das coisas. Ou para ser mais exato, de sua precariedade.

Figueiredo pode ser apontado como um poeta do cotidiano, mas não porque narra algum acontecimento, não porque conta uma história, mas sim, por apontar, em sua poesia, o cotidiano como acontecimento minúsculo e descontínuo. Cenas absolutamente irrelevantes é que agenciam o poema, porque nada que é narrado como grandioso ou relevante no encadeamento dos fatos é efetivamente relevante. A vida corre em Poesia alguma poesia como uma contranarrativa, ou se desejarem, como uma narrativa dos não-fatos.

E essa precariedade da narrativa é o que atravessa todo o livro, mesmo quando ele não narra nada. Ele é precário no amor, o alimento, na vida. Há sempre uma falta por cumprir, uma ausência por sentir.

A ausência dessa grande história a ser narrada é espraiada em tudo que permeia o livro. São poemas sobre a precariedade da existência, de uma existência, de um tipo de existência: negra, periférica e pobre. Que inventa e cria, nas pequenas narrativas da vida banal, a potência de sua vida e de seu povo.

Jorge Augusto
Docente Instituto Federal Baiano