Quando eu era menina, eu e meu irmão passávamos boa parte das férias na casa de minha avó materna, Eutímia Rita, Ritinha, voinha. Contrariamente aos estereótipos maternos, voinha não era delicada, não sabia cozinhar bolos, doces, cocadas fartas…
mas sabia contar histórias. Eu pouco soube aproveitar aquele seu talento, a maioria das narrativas, quando não traziam um fundo disciplinar, sobre o respeito aos mais velhos, me aterrorizavam. Quando não faziam as duas coisas ao mesmo tempo. Há anos não me lembrava das histórias de voinha, e este livro de Aidil Araújo Lima me devolveu à menina miúda de sete anos transformando o medo em encantamento pelos seus contos.

Nestes vinte e sete textos, urdidos na ligeireza de quem tem afazeres esperando e prenhes de uma intensa complexidade narrativa, a autora nos apresenta uma plêiade de personagens familiares, mulheres envoltas em suas lutas cotidianas e invisíveis, homens que orbitam em eixos de masculinidades vulnerabilizadas[…] Aqui, li contos que, longe de serem narrativas fantásticas, contam histórias que compõem a vivência de pessoas cotidianas, isso que chamam de maravilhoso enquanto categoria teórica, aqui, é a maravilha que nos enche de horizontes possíveis e que rebordam as vidas das personagens de saídas e caminhos que reconhecem as potências de suas existências.

Profa. Dra. Lívia Natália.
(Poeta e Professora de Teoria da literatura)