Este livro é uma narrativa sobre índios, governamentalidade, Estado nacional brasileiro, caboclos, censo etc. Contudo, há mais aqui, é um antropólogo que, à luz do escrutínio de fontes históricas primárias e da historiografia, constrói contextualmente a sua narrativa central acerca dos povos indígenas do Nordeste, no âmbito dos conturbados processos de formação do Estado brasileiro e de estabelecimento de uma sociedade nacional. Formalmente, é um texto de História, Antropologia, Ciência Política? Um pouco de cada, e aí, a meu ver, eis o mérito, o exercício ousado de interpretar a realidade sem compartimentá-la analiticamente, compreendendo-a multifacetada em sentidos. Enfim, o autor ousou, congeminou a sua identidade de observador, pois, caso contrário, seu texto espelharia apenas alguns aspectos daquela trama, que corporifica o processo de supressão étnica dos índios do nordeste brasileiro, ali identificados demograficamente pelos agentes do Estado nacional brasileiro por uma categoria coletiva estigmatizada, desvinculada das suas representações e dimensões social, histórica, cultural, política e territorial.
Cloves Macedo Neto