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Cata-ventos me fez lembrar do poema da calma e do silêncio, de Conceição Evaristo.
Podemos ler nessa estreia de Gonesa o “mascar, rasgar entre os dentes (…) o tutano do verbo” que verseja no “âmago das coisas”. Se o papel da poeta é esculpir a palavra, Cata-ventos nasce robusto e se sustenta sozinho.
O amor é costurado em Cata-ventos com sopros de linhas. Um resgate do amor ancestral e a atualização desse amor-axé que é ao mesmo tempo pessoal e instransferível, como coletivo. Como no axé esse amor precisa ser compartilhado pra se renovar e gerar mais amor num ciclo contínuo. Gonesa traz em sua poesia a experiência do amor negro em seu sentido mais amplo, que proporciona não somente a vivência do amor próprio e a possibilidade de outros amores, mas revela também um caminho para a restauração plena da liberdade desse corpo negro através dele [o amor], como nos ensinou bell hooks.
A escrita de Gonesa é poesia de mulher preta desconstruída com bicão na diagonal,
sem receio de se permitir receber Alice. Sem medo de se ajoelhar e confessar (Para
o Padre), sem vergonha da freira; seus poemas trazem a complexidade humana para
deleite de quem lê e fala de tantas coisas: saudade, angústia, beleza e amores, nem
sempre bonitos, mas sempre esperados.
Esperar o amor significa amar muitas vezes e apesar de todo o começo serem as tais flores que nossas avós nos avisavam, o fim não tem saída, é dor. A dor do rompimento, como a primeira vez que o ar invade os pulmões de um recém-nascido. Viver e morrer faz parte da vida, também da poesia,
“e nem tudo se enterra facilmente”.
Mel Adún,
Lexington, 13 de janeiro de 2020
Peso | 135 g |
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