O cenário contemporâneo nas humanidades, em geral, é marcado pela tentativa de apreensão política, cultural, subjetiva e epistemológica da diferença. Enfrentar os desafios que a compreensão da diversidade e da organização de modos de sociabilidade e participação política que valorizem a pluralidade de sujeitos, subjetividades e histórias é o desafio do nosso tempo.
Pensar a diferença no espaço e no tempo, de modo que os grupos sociais, as comunidades, as nações possam ser valorizadas justamente a partir do que as define, que é a diferença, são características que norteiam os projetos do grupo editorial organismo. Nesse sentido, quando falamos em direitos humanos, estamos pensando justamente nesse direito inalienável que qualquer sujeito, grupo ou comunidade tem de afirmar sua singularidade, e traçar seus próprios trânsitos com a diversidade.
A pretensão editorial da Segundo Selo/Organismo é promover publicações que somem na e assumam a tarefa de promover tanto a afirmação das singularidades como potências existenciais, como também construir um diálogo entre essas diferenças, sejam elas raciais, étnicas, históricas, de gênero ou sexuais.
Acreditamos que o diálogo entre as diversas possibilidades de existência é a base discursiva para modelos de sociabilidade nos quais a hierarquização, pela exclusão ou pela violência, ou por qualquer outro meio, não triunfe sobre o compartilhamento de experiências e saberes.
Não acreditamos em um modelo de sociabilidade que apague as diferenças e estabeleça uma forma hegemônica e universal de existência, mas sim, que o diálogo, tensivo e extensivo, o debate de ideias, a contraposição de perspectivas, podem nos ajudar a compreender mais a nós mesmos e aos outros, possibilitando assim a produção de um circuito de solidariedade existencial e epistemológica que não seja compreendido a partir de hierarquias e exclusões.
Para isso publicamos cada texto como teoria, compreendemos que um romance negro, um livro de poema homoafetivo, uma narrativa indígena, a produção intelectual negro-feminista, e ainda a tradição canônica, são igualmente produção teórica, que nos informa sobre esses diversos modos de existir e pensar a vida e as diversas formas de produzir a sociedade. Nesse sentido, um livro acadêmico e um texto literário têm para nós a mesma importância epistêmica, pois, a diferença entre os gêneros não significa, em nossas publicações, hierarquia conceitual.
Portanto, para nós, essa proposta de diálogo e essa trança entre as diferenças deve ser construída de forma não hierárquica, então, não hegemônica, isso implica que ela deve partir dos atores sociais, suas histórias e seus saberes, que figuraram na margem dos processos de cidadanização na sociedade moderna. Assim, é a partir do que se convencionou chamar de periferia da modernidade que deve ser produzido esse novo modelo de sociabilidade, que só pode ser democrático se partir desses sujeitos e territórios, postos à margem.
Portanto, somos uma editora nascida e criada no bairro da Liberdade, maior bairro negro fora da África, na cidade mais negra do Brasil. Esse lugar de enunciação, esse território, demarca um ponto de partida de nosso trabalho editorial. É a partir dessa periferia, negra e múltipla, que buscamos compreender, dialogar e intervir na produção da diversidade como um valor ético-estético. Por acreditar nessa perspectiva, norteamos as publicações da Segundo Selo/organismo editora na direção da produção de um devir minoritário no pensamento. Desse modo, nossa missão é promover, divulgar e pôr em circulação uma produção teórica, crítica e literária que em seus aspectos ético-estéticos proponha a luta antirracista, a democracia e a diversidade como valores inegociáveis, buscando colaborar para a produção de uma sociedade mais justa e diversa.