
Alguma Poesia Alguma – Geraldo Figueiredo
26 de setembro de 2019
Revista Organismo n°0- Entrevistas. org. Jorge de Souza Araújo
8 de novembro de 2019
Palavra de Osso/ Osso da Palavra
– de Carlos Arouca
R$44,90
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Autor: Carlos Arouca
Poesia é coisa de que se fala há tantos séculos quanto concebemos a existência de uma forma de humanidade que se pensa principalmente por meio da palavra escrita.
A matriz cultural de linhagem greco-romana que se europeizou apagando as relações com a África Setentrional fez uso dessa mesma palavra, multiplicada em diversas línguas nacionais hegemônicas, para desumanizar uma série de outros povos e usar seus corpos como mão de obra barata na construção do império da cabeça-ocidente.
Quando uma pessoa negra, nascida em um país como o Brasil – herdeiro de uma longeva e persistente história de servidão racial e colonial –, decide escrever poesia, há que se considerar o gesto como forma de insurgência e política de si – um jeito do corpo levantar a cabeça em outra direção.
A poesia produzida de modo não ornamental, neste contexto, torna-se na lavra de Carlos Arouca um modo de intensificar sua presença estética e ética no cotidiano do trabalho exaustivo que poderia, do contrário, sequestrar ao seu corpo uma certa vitalidade altiva.
Seus poemas circulam entre formas possíveis de potencializar a diversidade de dimensões em que um ser humano pode travar seu diálogo com a vida – a sexualidade de seu corpo; a constituição psíquica de seus pensamentos; o enlace tenso de seus afetos.
Escuto o osso da gramaticalidade da língua colonial estalar e ser instilado de um veneno-remédio ali mesmo onde sua medula se irradia e consegue produzir choques em lugares inesperados do corpo-nação.
Assim, a palavra de Arouca passa a ser osso de produção sanguínea, a eletrizar inusitadamente aquilo que a cabeça-ocidente quer fim de linha e quase morto – “a vida ainda vai continuar a ser força”.
Denise Carrascosa
Professora de Literatura do Instituto de Letras da Ufba
Peso | 145 g |
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