Autor: Cazzo Fontoura

Porém, muito mais do que reciclar versos, conforme sugere o emblemático título, o poeta reverencia seus mestres e privilegia o diálogo com outros textos, além de nos convidar a revisitar a multiplicidade de vozes que atravessam sua escrita dentro de um novo contexto no qual as palavras transitam, ora pelas folhas impressas, ora pela configuração imagética do computador, ícone do mundo pós-moderno.

As aporias presentes em sua escrita desvelam os signos do universo contemporâneo, fragmentado, descentrado, ao passo que feixes de sentidos nos remetem a uma tradição literária e poética consagrada.
O livro, de estética inovadora, transcende o aspecto formal, pois sugere ao leitor estabelecer um pacto ficcional com os signos tecnológicos.

Neste jogo, bem articulado, Cazzo movimenta a linguagem de maneira desconstrutora tal qual sugere Derrida, marcando o limite de um campo, posicionando-se fora dele ou em seu transbordamento, e apontando o sistema de ideias que o constitui.

Devo salientar que Cazzo, ao contrário dos poetas de sua predileção, não vê estrelas, mas, sim, parabólicas, o que lhe permite captar as múltiplas dimensões do seu tempo, ainda que, neste fazer poético, nem tudo seja perfeito, como nos adverte o próprio autor ao se referir às configurações imagéticas resultantes do “aprisionamento” humano versus a precariedade do verde nos espaços citadinos, presentes no poema intitulado Fotografia 10, 1999.

Com inspiração machadiana, logo na folha de rosto, recebemos pistas para percorrer a obra em busca da compreensão do jogo poético, construído pelo autor. Um fragmento da obra de Antônio Cícero sintetiza a “intenção” do eu poético de Cazzo Fontoura, segundo a qual “o importante não é fazer o novo, mas aquilo que não envelhece”.

Eliete Gusmão
Mestre em Estudos de linguagem / UNEB